Post #108 - Sobre a Matéria no O Globo
Pra quem ainda não leu, nesse último domingo foi publicada uma matéria sobre poker online na revista do jornal O Globo, que acompanha o jornal nesse dia da semana.
Eu fui um dos jogadores citados e por isso gostaria de dar minha visão sobre a matéria e sobre alguns dos comentários que li em seguida no fórum. (Na Poker Mania também foi criado um tópico.)
Essa matéria tinha sido planejada há meses e eu tinha sido entrevistado inicialmente para a mesma há um ano atrás. Mas no final das contas acabou que o tópico da matéria, que era poker nas escolas, acabou não sendo algo muito palpável e a matéria foi deixada de lado. Eu mesmo comentei com a entrevistadora que não conhecia casos de poker jogado nas escolas, somente de poker jogado entre jovens da minha idade - universitários basicamente.
Nessas últimas semanas, enquanto eu estava viajando fui contactado de novo para participar dessa matéria, que dessa vez focava no assunto certo: poker online. Conversei com a Marcella, que tinha me entrevistado da última vez e ela me garantiu que esta matéria também não seria pejorativa quanto ao poker, pelo contrário. Isso me convenceu a conversar com o Fellipe Awi.
Trocamos e-mails enquanto eu estava viajando e, quando voltei, conversamos via telefone durante mais de meia hora falando sobre poker e esclarecendo umas dúvidas dele quanto ao jogo e aos jogadores.
Ele pediu para que eu trouxesse amigos jogadores para a entrevista ao vivo, para que pudessemos mostrar pontos de vista de vários jogadores. E além de nós ele também entrevistou o Michel, Presidente e Brasa. Corrijam-me se me esqueço de alguém.
De qualquer forma a entrevista durou 2 horas e a gente achou até que fosse ser maior. Muitas coisas sobre as quais falamos foram cortadas, devido à falta de espaço evidentemente.
Queria que por favor ninguém se preocupasse com a situação dos jogadores entrevistados quanto à parte legal de impostos e afins. Acredito que nenhum jogador estaria dando entrevistas caso devesse algo à alguém. Isso me parece elementar.
Depois gostaria de comentar quanto aos valores citados. Muitos criticaram o fato de valores terem sido expostos. Eles na minha opinião não estão errados. É chato ter que citar ganhos - ainda mais inflacionados como os de multitables que não contam os buy-ins, somente os ganhos. É chato porque embora no mundo do poker não seja nada demais alguém ganhar alguns milhares de dólares em uma noite, no mundo real isto é absurdo, ainda mais para jovens.
Por isso eu fiquei muito indeciso ao concordar em ser entrevistado - sabia que a pergunta de quanto se ganha seria feita.
O problema é que, a partir do momento em que você aceita contribuir com a matéria, você precisa revelar alguns valores mesmo que pequenos e mesmo que sejam somente alguns. Isso porque não faria sentido um jornal (ou revista) publicar uma matéria dessa sem minimamente mencionar os ganhos dos jogadores. Todos os leitores iam se perguntar: mas e quanto se pode-se ganhar, afinal?
Acredito que se nenhum valor fosse mencionado muitos poderiam até acreditar que os valores fossem maiores ainda dos que lemos publicados. Além do mais, existe uma grande diferença do poker pra todas as outras atividades esportivas: poker é uma atividade onde o dinheiro está diretamente envolvido. Você precisa de dinheiro para jogar. Poker sem valer dinheiro não é poker.
Até hoje nunca li uma matéria falar sobre a bolsa de valores ou sobre algum investidor de sucesso sem mencionar valores. E também acho que será difícil lermos uma matéria no futuro sobre poker que não o faça, pelos motivos que citei no último parágrafo.
Me lembro até de uma entrevista do Christian Kruel, acredito que a da revista Época, onde o escritor dizia que ele ganhava em média 6 mil dólares por dia - um provável erro de contas por parte do autor. Se alguém ganha 6 mil dólares em média por dia, ganha mais de 300 mil reais por mês. Ainda bem que nada do tipo foi publicado com relação à esta matéria, pois um autor mal-intencionado que quisesse também poderia multiplicar 17 mil dólares por 30 e dizer que 510 mil dólares por mês é o que pode-se ganhar no poker depois de 30 noites jogando.
Já fico feliz que neste artigo os valores não foram considerados tão importantes, nem foram mencionados com muita ênfase. Claro que preferia que não fossem citados, mas já que é um mal necessário, pelo menos o Fellipe Awi não pôs o dedo na ferida.
De todos os artigos que li nos grandes jornais até hoje acho que este foi o único que tratou o poker com seriedade e que tem uma boa chance de contribuir com a melhora da imagem do jogo.
Foram citados muitos benefícios de se jogar poker, como ajuda na mentalidade para negócios e investimentos e ajuda no aprendizado do inglês, por exemplo. Isto foi excelente na minha opinião.
E foi por isso que dei a entrevista. Muitos me perguntaram qual a necessidade de me expor numa matéria como essa que nada me acrescentou pessoalmente, a não ser 3-4 amigos que ao me encontrarem me deram os parabéns por terem me visto enquanto folheavam o jornal.
Eu não achei que fosse ser diferente. Eu só decidi contribuir com a matéria, porque pelas conversas que tive com a Marcella Sobral e o Fellipe Awi eu achei que esta era uma oportunidade de mostrar pros brasileiros o outro lado do poker. Eu tentei dar uma força pro poker brasileiro, do jeito que pude. Será que vou me arrepender daqui a um ano de ter tomado esta decisão? Espero que não. Somente analisei os prós e contras e esta me pareceu ser claramente uma decisão certa.
Acho que o Juliano Maesano entendeu perfeitamente o meu ponto de vista no post que escreveu sobre a matéria no MaisEV.
É claro que nada é perfeito, e que o Fellipe precisava por um fator negativo de se jogar poker profissionalmente. Ele escolheu falar sobre a legislação "cinza" brasileira quanto ao jogo/esporte. Eu, preferiria para o futuro do poker online no Brasil, que ele falasse que não é qualquer um que pode chegar lá. Que é preciso muito esforço e dedicação para se tornar um jogador de poker e que o lifestyle dos profissionais é sempre no limite, sempre se arriscando e "dançando na corda bamba", sem saber qual o resultado do próximo dia, semana ou até mês de trabalho. Basicamente que falasse que não é dinheiro fácil como parece.
O problema maior que percebi no último parágrafo da matéria é que, em sua afirmação, o deputado Hauly fala que o maior problema do poker online é o roubo por parte dos sites, quando isso não é motivo por nem 0.00001% dos prejuízos dos jogadores perdedores online. O motivo da maioria dos jogadores perder é a falta de habilidade ao jogar. É claro que isso pode ser revertido, mas a maioria dos jogadores não é dedicado o suficiente, nem tem vontade de aprender a fundo o jogo. E é por isso que vemos constantemente jogadores se lamentando de terem perdido devido à deshonestidade dos sites de poker, quando deveriam perceber que eles mesmos são responsãveis pelas suas derrotas a longo prazo, devido ao modo como jogam. Essa foi a única parte em que achei que a matéria pecou.
Mas no geral, qualquer jogador de poker que for colocar a matéria publicada na balança vai perceber que foi excelente ter uma matéria honesta sobre poker, ressaltando vários bons motivos de se jogar poker, além de falar sinceramente sobre o jogo e sem tentar destorcer grotescamente os fatos e as declarações dos jogadores.
Um imenso obrigado a todos que ajudaram e apoiaram nos posts do MaisEV e da Poker Mania.
Gostou do post? Você vai gostar ainda mais do guia gratuito Dicas de Sit and Go.
Eu fui um dos jogadores citados e por isso gostaria de dar minha visão sobre a matéria e sobre alguns dos comentários que li em seguida no fórum. (Na Poker Mania também foi criado um tópico.)
Essa matéria tinha sido planejada há meses e eu tinha sido entrevistado inicialmente para a mesma há um ano atrás. Mas no final das contas acabou que o tópico da matéria, que era poker nas escolas, acabou não sendo algo muito palpável e a matéria foi deixada de lado. Eu mesmo comentei com a entrevistadora que não conhecia casos de poker jogado nas escolas, somente de poker jogado entre jovens da minha idade - universitários basicamente.
Nessas últimas semanas, enquanto eu estava viajando fui contactado de novo para participar dessa matéria, que dessa vez focava no assunto certo: poker online. Conversei com a Marcella, que tinha me entrevistado da última vez e ela me garantiu que esta matéria também não seria pejorativa quanto ao poker, pelo contrário. Isso me convenceu a conversar com o Fellipe Awi.
Trocamos e-mails enquanto eu estava viajando e, quando voltei, conversamos via telefone durante mais de meia hora falando sobre poker e esclarecendo umas dúvidas dele quanto ao jogo e aos jogadores.
Ele pediu para que eu trouxesse amigos jogadores para a entrevista ao vivo, para que pudessemos mostrar pontos de vista de vários jogadores. E além de nós ele também entrevistou o Michel, Presidente e Brasa. Corrijam-me se me esqueço de alguém.
De qualquer forma a entrevista durou 2 horas e a gente achou até que fosse ser maior. Muitas coisas sobre as quais falamos foram cortadas, devido à falta de espaço evidentemente.
Queria que por favor ninguém se preocupasse com a situação dos jogadores entrevistados quanto à parte legal de impostos e afins. Acredito que nenhum jogador estaria dando entrevistas caso devesse algo à alguém. Isso me parece elementar.
Depois gostaria de comentar quanto aos valores citados. Muitos criticaram o fato de valores terem sido expostos. Eles na minha opinião não estão errados. É chato ter que citar ganhos - ainda mais inflacionados como os de multitables que não contam os buy-ins, somente os ganhos. É chato porque embora no mundo do poker não seja nada demais alguém ganhar alguns milhares de dólares em uma noite, no mundo real isto é absurdo, ainda mais para jovens.
Por isso eu fiquei muito indeciso ao concordar em ser entrevistado - sabia que a pergunta de quanto se ganha seria feita.
O problema é que, a partir do momento em que você aceita contribuir com a matéria, você precisa revelar alguns valores mesmo que pequenos e mesmo que sejam somente alguns. Isso porque não faria sentido um jornal (ou revista) publicar uma matéria dessa sem minimamente mencionar os ganhos dos jogadores. Todos os leitores iam se perguntar: mas e quanto se pode-se ganhar, afinal?
Acredito que se nenhum valor fosse mencionado muitos poderiam até acreditar que os valores fossem maiores ainda dos que lemos publicados. Além do mais, existe uma grande diferença do poker pra todas as outras atividades esportivas: poker é uma atividade onde o dinheiro está diretamente envolvido. Você precisa de dinheiro para jogar. Poker sem valer dinheiro não é poker.
Até hoje nunca li uma matéria falar sobre a bolsa de valores ou sobre algum investidor de sucesso sem mencionar valores. E também acho que será difícil lermos uma matéria no futuro sobre poker que não o faça, pelos motivos que citei no último parágrafo.
Me lembro até de uma entrevista do Christian Kruel, acredito que a da revista Época, onde o escritor dizia que ele ganhava em média 6 mil dólares por dia - um provável erro de contas por parte do autor. Se alguém ganha 6 mil dólares em média por dia, ganha mais de 300 mil reais por mês. Ainda bem que nada do tipo foi publicado com relação à esta matéria, pois um autor mal-intencionado que quisesse também poderia multiplicar 17 mil dólares por 30 e dizer que 510 mil dólares por mês é o que pode-se ganhar no poker depois de 30 noites jogando.
Já fico feliz que neste artigo os valores não foram considerados tão importantes, nem foram mencionados com muita ênfase. Claro que preferia que não fossem citados, mas já que é um mal necessário, pelo menos o Fellipe Awi não pôs o dedo na ferida.
De todos os artigos que li nos grandes jornais até hoje acho que este foi o único que tratou o poker com seriedade e que tem uma boa chance de contribuir com a melhora da imagem do jogo.
Foram citados muitos benefícios de se jogar poker, como ajuda na mentalidade para negócios e investimentos e ajuda no aprendizado do inglês, por exemplo. Isto foi excelente na minha opinião.
E foi por isso que dei a entrevista. Muitos me perguntaram qual a necessidade de me expor numa matéria como essa que nada me acrescentou pessoalmente, a não ser 3-4 amigos que ao me encontrarem me deram os parabéns por terem me visto enquanto folheavam o jornal.
Eu não achei que fosse ser diferente. Eu só decidi contribuir com a matéria, porque pelas conversas que tive com a Marcella Sobral e o Fellipe Awi eu achei que esta era uma oportunidade de mostrar pros brasileiros o outro lado do poker. Eu tentei dar uma força pro poker brasileiro, do jeito que pude. Será que vou me arrepender daqui a um ano de ter tomado esta decisão? Espero que não. Somente analisei os prós e contras e esta me pareceu ser claramente uma decisão certa.
Acho que o Juliano Maesano entendeu perfeitamente o meu ponto de vista no post que escreveu sobre a matéria no MaisEV.
É claro que nada é perfeito, e que o Fellipe precisava por um fator negativo de se jogar poker profissionalmente. Ele escolheu falar sobre a legislação "cinza" brasileira quanto ao jogo/esporte. Eu, preferiria para o futuro do poker online no Brasil, que ele falasse que não é qualquer um que pode chegar lá. Que é preciso muito esforço e dedicação para se tornar um jogador de poker e que o lifestyle dos profissionais é sempre no limite, sempre se arriscando e "dançando na corda bamba", sem saber qual o resultado do próximo dia, semana ou até mês de trabalho. Basicamente que falasse que não é dinheiro fácil como parece.
O problema maior que percebi no último parágrafo da matéria é que, em sua afirmação, o deputado Hauly fala que o maior problema do poker online é o roubo por parte dos sites, quando isso não é motivo por nem 0.00001% dos prejuízos dos jogadores perdedores online. O motivo da maioria dos jogadores perder é a falta de habilidade ao jogar. É claro que isso pode ser revertido, mas a maioria dos jogadores não é dedicado o suficiente, nem tem vontade de aprender a fundo o jogo. E é por isso que vemos constantemente jogadores se lamentando de terem perdido devido à deshonestidade dos sites de poker, quando deveriam perceber que eles mesmos são responsãveis pelas suas derrotas a longo prazo, devido ao modo como jogam. Essa foi a única parte em que achei que a matéria pecou.
Mas no geral, qualquer jogador de poker que for colocar a matéria publicada na balança vai perceber que foi excelente ter uma matéria honesta sobre poker, ressaltando vários bons motivos de se jogar poker, além de falar sinceramente sobre o jogo e sem tentar destorcer grotescamente os fatos e as declarações dos jogadores.
Um imenso obrigado a todos que ajudaram e apoiaram nos posts do MaisEV e da Poker Mania.
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posted by Roberto Riccio @ 12:51 AM
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